Nas Aldeias de Crianças SOS, estamos profundamente conscientes dos desafios crescentes na área da saúde mental em Portugal, em especial, no que respeita à depressão. Este cenário já preocupante viu um agravamento significativo com a irrupção da pandemia de COVID-19, a qual exacerba ainda mais as lacunas no sistema de saúde pública. O Serviço Nacional de Saúde (SNS), em um período já marcado por diversas dificuldades, encontra-se em um dilema para oferecer os cuidados apropriados a uma população em crescente necessidade. Este é um chamado para a reflexão e ação coletivas, no sentido de fortalecermos os sistemas de apoio à saúde mental em nosso país.

Consideramos fundamental destacar as descobertas recentes que demonstram que, apesar da maioria dos portugueses compreender que a depressão é, efetivamente, uma doença, ainda existe um contingente significativo de 28,5% que a vê como um mero "estado de espírito". Esta visão errada, aliada à sensação de que a doença é desvalorizada socialmente, contribui para a perpetuação do estigma em torno da depressão. Esta situação é especialmente preocupante, pois actua como uma barreira adicional para aqueles que necessitam procurar tratamento adequado.

É imperativo que, como sociedade, trabalhemos para corrigir estas percepções erradas e façamos um esforço colectivo para desmistificar a depressão, encorajando um diálogo aberto e o acesso a cuidados de saúde mental eficazes.

Nas Aldeias de Crianças SOS, estamos profundamente comprometidos com o bem-estar integral das crianças e das suas famílias, o que inclui não apenas as necessidades físicas, mas também as emocionais e psicológicas. Compreendemos que a saúde mental é uma peça fundamental para a estabilidade e desenvolvimento saudável de cada criança e, consequentemente, para a harmonia da família como um todo. 

É neste contexto que a resposta social CAFAP (Centro de Apoio Familiar e Aconselhamento Parental), inserida em nosso Programa de Fortalecimento Familiar, assume uma relevância especial. Este programa foi concebido para trabalhar directamente com as famílias em situações vulneráveis, com o objectivo de fortalecer os laços familiares e proporcionar as ferramentas necessárias para que possam enfrentar, de forma resiliente e informada, os desafios associados à saúde mental. Através de sessões de aconselhamento, workshops e actividades que promovem a saúde mental e emocional, buscamos criar um ambiente onde o estigma em torno de temas como a depressão possa ser desfeito.

O cenário agravado pela pandemia da COVID-19 reforça a urgência deste tipo de iniciativa. Com o aumento da prevalência de condições como a depressão, como indicam estudos recentes, torna-se imperativo que estruturas de apoio robustas estejam disponíveis para as famílias. O Serviço Nacional de Saúde, já sobrecarregado, enfrenta limitações, o que torna ainda mais crucial o papel de organizações como as Aldeias de Crianças SOS em preencher essas lacunas.

Entendemos que desmistificar a depressão e outros desafios de saúde mental começa no núcleo familiar. Quando equipadas com as informações e recursos adequados, as famílias são mais aptas a buscar o tratamento necessário e a criar um ambiente onde cada membro, adulto ou criança, possa florescer. Portanto, reiteramos o nosso compromisso em continuar a lutar por uma sociedade onde a saúde mental seja uma prioridade e onde cada criança possa crescer num ambiente de amor, segurança, respeito e compreensão.