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Férias, Lazer,

Ócio e os Oasis

CAFAP de Oeiras

“I can't get a life if my heart's not in it!”

The Importance of Being Idle, Oasis, 2005.

Em 2005, Noel Gallagher, guitarrista e letrista da banda Oasis escreveu e musicou a canção The Importance of Being Idle, em português “A importância de ser ocioso”. O que, à primeira vista, não é de estranhar, porque Noel Gallagher sempre se assumiu como um grande preguiçoso. Mas, o refrão também nos diz “I can't get a life if my heart's not in it!”, ou seja: “Eu não consigo ter uma vida, se o meu coração não está nela”. Na canção Noel descreve vários problemas que podem ser comuns a todos nós: pouco dinheiro, a perda da casa, amigos que nos desiludem, uma separação, uma doença grave, etc. E a todos esses problemas, Noel responde que precisa de uma cama e um minuto de sossego porque sem isso não consegue viver a vida com o coração. Ou seja, de forma apaixonada. Com sentimento.

 

O lazer é um direito que foi assumido depois da II Guerra Mundial. Surge consagrado na Declaração Universal dos Direitos Humanos, no seu artigo 24. Lá está escrito:

 

“Todos os seres humanos têm direito a repouso e lazer, inclusive à limitação razoável das horas de trabalho e férias periódicas remuneradas”

É graças ao reconhecimento desse direito que hoje associamos lazer ao descanso, ao entretenimento e ao desenvolvimento pessoal. As férias e os tempos livres correspondem ao período do nosso tempo que nos dedicamos ao lazer. O lazer ganhou esta conotação, porque na sociedade moderna foi necessário compartilhar o tempo, medi-lo, espartilhá-lo para que se pudesse saber o quanto produzimos, o quanto rendemos e o quanto vale o nosso trabalho. Hoje, todos sabemos o que lazer nos oferece: repara o desgaste físico e mental causado pela tensão à qual estamos sujeitos diariamente; o divertimento fomenta a “higiene mental” que rompe com a monotonia do dia-a-dia e promove a criatividade; e o desenvolvimento pessoal pressupõe a descoberta de novas formas de sensibilidade e de atitude perante a vida.

O lado menos bom do lazer é a sua associação cada vez maior ao consumo e à massificação. Trabalhamos para que, entre outras coisas, possamos ter dinheiro para descansar, nos divertirmos e descobrirmos coisas novas sobre nós. Por isso há quem tenha férias, mas não as goze. E há os que podem ir ao estrangeiro todos os anos e os que nunca viram o mar (mesmo que vivam numa ilha). Por outro lado, o lazer passou a ser parte da moda, dos grandes movimentos turísticos e da oferta da mesma coisa em todo o lado. Por isso, vamos todos aos mesmos destinos de praia ou neve, comemos no mesmo restaurante, dormimos na mesma cadeia de hotel e bebemos a mesma bebida gaseificada. Ou seja, acabamos por nos desgastar a combinar, programar e comprar as férias, onde acabamos por fazer “mais do mesmo” e, por isso, por vezes regressamos com a sensação de que não vimos nada de muito novo.

É, por isso, que enquanto indivíduos devemos privilegiar o ócio ao lazer. Devemos incitar as famílias, os jovens e a as crianças ao ócio. O ócio, como os gregos antigos o denominavam, era a liberdade de cada um de nós poder dispor do tempo – ao invés do lazer que é dispor do tempo que nos é permitido gozar. O ócio é o que os italianos poeticamente denominam de “il dolce far niente”, ou seja “a doçura de nada fazer”. O ócio não é lazer, mas pode (e deve) ser exercido nos momentos de lazer. E como sublinha a expressão italiana, o ócio não é fazer nada, é antes saborear o não fazer nada: o ócio não é apenas o ficar deitado na cama. É ficar deitado na cama a deleitarmo-nos com as texturas da tinta do teto, com os pensamentos que cruzam a nossa mente, com a leitura ou, tão só, com a placidez de nada fazer. O ócio não é a preguiça que muitos apregoam. A preguiça é a aversão ao trabalho, é a negligência, morosidade e a lentidão. Não é um bem. E se não é um bem, então é uma porta fechada ao coração na nossa vida. Já o ócio é um prazer. O prazer de nada fazer. E, por isso mesmo, o ócio – mais do que o lazer – deve ser convocado.

 

 

Então, como devemos fazer para gozar o ócio nas férias ou nos momentos de lazer?

Eis algumas dicas para o ocioso:

  • Faça da falta de hábito um estilo de vida.

  • Perca os telemóveis, os iPad, o portátil. Desligue-se do dia-à-dia.

  • Esqueça os planos diários, semanais ou quinzenais.
  • Esqueça as pessoas de que não gosta ou que o enfadam. Procure as que ama e o/a amam.
  • Mude com a família o destino de férias. Senão gosta das férias em família, tire tempo para si.
  • Peça uma casa de férias sem televisão e rádio.
  • Prefira os meios mais lentos para viajar.
  • Evite o avião, o comboio, o carro (senão for descapotável) e ande, ande muito a pé.
  • Aproveite o sol e o mar o quanto puder.
  • Suba a maior serra, desça ao vale mais verde.
  • Fique de pé, quieto.
  • Melhor: fique sentado ou deitado, sempre numa posição confortável.

E, como Noel Gallagher diz, “Deixe o coração entrar na sua vida”.

As Aldeias de Crianças SOS são a maior organização do mundo a apoiar crianças e jovens em perigo ou em risco de perder o cuidado parental.
 

Acredite num mundo onde todas as crianças crescem em amor e segurança. 

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