#Entrevista

Conversa com

Ana Mendes Godinho

Ana Mendes Godinho

Ministra do trabalho, Solideriedade e Segurança Social

No passado dia 7 de Janeiro, num contexto de Férias de Natal e Dias de Reis, recebemos a agradável visita da Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Godinho, a Casa de Acolhimento Residencial (CAR) da Guarda. Segundo a própria Ministra, sabendo que a jovem Paula* da CAR da Guarda estava a estudar as Comunicações Sociais, voluntariou-se imediatamente manifestando o seu interesse em ser entrevistada pela jovem em qualquer altura.

A entrevista, portanto, foi realizada por completo pela jovem Paula. Obrigado, Ana Godinho, pela disponibilidade e carinho.

Paula Pergunta 
Pode falar-nos um pouco de si, que é a Ministra Ana Godinho, quando ela não está a exercer a sua função?

Ana Godinho Responde

Paula, se há algo que me caracteriza, é ser a mesma pessoa quando estou a trabalhar e quando não estou a trabalhar. Tento nunca esquecer que sou uma pessoa como todas as outras e tenho de dizer que por vezes sinto falta de ter mais tempo para passar com os meus filhos e com a minha família.

Paula Pergunta 
Da sua infância quais foram os dois momentos que a marcaram mais?

Ana Godinho Responde

Olha, o grande momento que me marcou, embora não me lembre por completo, foram os meus primeiros dois anos de vida e que passei em Moçambique. Fui para Moçambique quando tinha três meses e vim de lá quando tinha dois anos e embora não tenha memórias concretas de Moçambique, sinto que muita da minha personalidade ficou marcada pelo facto de ter passado os meus primeiros dois anos de vida por lá.


Vou dar-vos alguns exemplos concretos do que sinto que me marcou, olhem, em primeiro lugar os ritmos e a música, adoro os ritmos africanos, a música africana, adoro os cheiros e também adoro o calor, por isso penso que a minha personalidade ficou muito marcada por ter aprendido a começar a viver numa cultura tão diferente.

Paula Pergunta 
Já la voltou depois disso?

Ana Godinho Responde

Sim, voltei a Moçambique há cerca de quatro anos, e foi espectacular porque senti que reconhecia um lugar do qual nem sequer tenho muita memória, mas senti que estava a voltar para casa.

Paula Pergunta 
Como se tornou Ministra, e porque escolheu este cargo? Fale-nos um pouco sobre a sua formação académica e as dificuldades que teve.

Ana Godinho Responde

Nunca sonhei com este cargo. O Primeiro-Ministro convidou-me para esta missão... Penso que tenha me convidado essencialmente devido à experiência que teve comigo durante quatro longos anos como Secretária de Estado do Turismo (e foram quatro anos muito intensos).

Agora, se me perguntarem se planeei a minha vida, tudo de uma forma muito organizada, ou se alguma vez sonhei com o que queria exatamente ser, digo-vos que não o fiz. A vida aconteceu, surgiram oportunidades e penso que sempre assumi acima de tudo um grande lema de vida, que é, cada dia da nossa vida tem de ser útil e temos de sentir que a nossa vida vale a pena.

Paula Pergunta 
O que tem a dizer-nos sobre o salário mínimo nacional, espera-se que ele aumente este ano, que impacto terá nas famílias?

Ana Godinho Responde

O salário mínimo nacional é um dos instrumentos mais importantes para assegurar que as pessoas tenham uma vida decente. Porque o salário mínimo nacional é basicamente o instrumento do governo para dizer que ninguém pode receber menos do que esse valor como trabalhador, acaba por ser um instrumento importante porque assegura que existe uma regra que ninguém recebe menos do que um valor pelo seu trabalho e que o trabalho é de facto um motor de integração e uma garantia de que as pessoas podem ter uma vida digna.

Só para se ter uma ideia, o salário mínimo em 2015 era de 505 euros, agora em 2023 é de 760 euros, naturalmente aumentou desde 2015 em 50% em termos de valor, mas deve aumentar ainda mais, o nosso objectivo é que chegue aos 900 euros em 2026.

Penso que este é cada vez mais o papel da sociedade e do Estado, o chamado Estado social, que é basicamente uma construção da sociedade para garantir que para além do salário, que é crucial, existe também um conjunto de serviços essenciais para que as pessoas vejam garantidos os seus direitos de acesso à educação, saúde, centros de dia e outros.

Paula Pergunta 
Estamos sempre a ouvir nos meios de comunicação social sobre a importância dos trabalhadores, da indústria, do crescimento económico e das medidas necessárias para o crescimento do país. Como vê os trabalhadores do sector social, uma vez que para uma grande parte da opinião pública, estes não produzem riqueza, mas sim uma fonte de despesas?

Ana Godinho Responde

Pois bem, penso que esta opinião pública mudou um pouco com a pandemia. A pandemia mostrou a todos como é fundamental que tenhamos trabalhadores nas áreas sociais que tenham capacidade de resposta, que tenham o estado social que eu dizia anteriormente, com capacidade de resposta. Penso que era óbvio para todos, e penso que isso nos deu grandes lições, sobretudo que precisamos de ter mais capacidade de resposta do ponto de vista social.

A pandemia deu-nos legitimidade para atribuir e reforçar a capacidade de resposta do Estado social, há muito a fazer, os desafios são grandes, mas penso que todos ganhámos força para perceber que hoje em dia ninguém tem a coragem de dizer que não vale a pena investir na saúde, não vale a pena investir na educação, não vale a pena investir nos trabalhadores do sector social que respondem a tantas respostas sociais, por exemplo nos abrigos, nas casas, nas creches em tantos lugares. Penso que estas são três áreas fundamentais onde as pessoas são cada vez mais indispensáveis. 

Para isso chamamos a economia dos cuidados, a economia do serviço à sociedade, a economia do futuro, porque uma sociedade se baseia na sua capacidade de coesão e serviço entre as pessoas, e por isso penso que os trabalhadores do setor social serão cada vez mais valorizados, especialmente se não os quisermos perder.

Paula Pergunta 
Que oportunidades existem, ou vão ser criadas para os jovens no mundo do trabalho ainda no seu mandato?

Ana Godinho Responde

Em Portugal é realmente crítico que consigamos não só atrair jovens estrangeiros, mas também garantir que os nossos jovens que aqui estão fiquem e tenham oportunidades para uma vida plena.


O que eu penso que deve ser a área chave é, por um lado, assegurar que os jovens encontrem cá as condições para terem uma família, e por esta razão tenho-me concentrado muito nas formas de apoiar os jovens com famílias, as creches gratuitas são um bom exemplo. Portugal é um dos quatro países do mundo que tem creches gratuitas e este é um sinal para os jovens de que vale a pena ter filhos em Portugal e que o Estado os ajuda a evitar os custos associados às creches. 


É também fundamental que nós, em Portugal, possamos dizer aos jovens que vale a pena trabalhar aqui, o que significa isto? Devemos também ter um mercado de trabalho que os valorize, que os empregue sem contratos de trabalho precários, que os valorize e que lhes pague bem, porque se não o fizer, os jovens de hoje podem optar por ir trabalhar para qualquer parte do mundo. 

E assim, ou conseguimos dar este sinal ou os jovens escolhem, optam por outras soluções. O que estamos também a tentar fazer? Estamos a lançar um programa para que os jovens que decidam começar a trabalhar em Portugal, nos primeiros cinco anos de trabalho, tenham um regime fiscal diferente para que tenham mais rendimentos, ganhem mais e paguem menos impostos... e por isso este deve ser um compromisso de todos. As empresas têm de valorizar os jovens, o Estado também tem de, do ponto de vista fiscal, aliviar e reduzir os impostos sobre os rendimentos dos jovens para que possam começar a sua vida em Portugal.

Paula Pergunta 
Já conhecia as Aldeias de Crianças SOS em Portugal e no mundo? Na sua opinião, o que torna as Aldeias de Crianças SOS diferentes de outras instituições?

Ana Godinho Responde

Já conheço, aliás, aproveito para valorizar e agradecer todo o trabalho que fazem em Portugal e no mundo, à pouco diziam que estão em 138 países e territórios e este é um facto extraordinário. Acho que o que os diferencia dos outros projetos que tenho conhecido, realmente é o vosso Cuidado de Cariz Familiar. Cada criança e cada jovem tem uma resposta individualizada para o seu futuro e uma equipa inteira para os ajudar nesta longa jornada.

Paula Pergunta 
Gostaria de deixar uma mensagem de esperança para as crianças e jovens?

Ana Godinho Responde

Penso que a mensagem de esperança pode ser associada a data desta entrevista, Dia dos Reis, àqueles Reis que, guiados por uma estrela, sempre acreditaram que conseguiriam o impossível. Não há impossibilidades quando acreditamos, não há impossibilidades e cada dia que passa nas nossas vidas tem de ser um dia de sentimento de que vale a pena viver, a vida é o bem mais valioso que existe.

Quando acreditamos em nós próprios e quando acreditamos que estamos a viver numa sociedade onde todos estamos ao serviço uns dos outros, penso que isso transforma as nossas vidas. Ter sonhos é fundamental e ter estrelas que nos guie é igualmente fundamental.

Perguntas rápidas e respostas curtas
 

Que filme marcou a sua vida?

Paraíso do Cinema 

Um clube de futebol? 

Eu não tenho um.

Uma personagem que o inspira? 

Martin Luther King 

Como é que se vê daqui a dez anos? 

Avó 

Os sonhos de infância tornam-se realidade? 

Tive um sonho de ser cantora, ainda não o consegui realizar, mas canto muito com os meus amigos, é algo que me realiza.

Como define o Sr. Primeiro Ministro? 

Essa é muito difícil, uma pressão muito alta! Admiro-o profundamente e penso que lhe diria, ele é uma pessoa que nunca desiste daquilo em que acredita, que é a construção de um Portugal melhor. 

Qual é o seu passatempo preferido?

Costura

Qual é a sua comida preferida?

Pudim de arroz 

Tem algum animal de estimação? 

Tartarugas  

Cor favorita? 

Vermelho 

Música preferida ? 

Posso dizer um cantor e uma cantora? David Bowie e Madonna.

E uma banda? 

U2. não deve saber quem eles são! Eles não são do seu tempo. =)

Ministra Pergunta
e agora vou-te fazer uma pergunta Paula, Qual é o seu sonho?

Paula Responde

Quero ser jornalista ou atriz.

Muito obrigado Paula pelo seu extremo empenho e profissionalismo.

Obrigado também a Ministra Ana Godinho pela disponibilidade e atenção.

As Aldeias de Crianças SOS são a maior organização do mundo a apoiar crianças e jovens em perigo ou em risco de perder o cuidado parental.
 

Acredite num mundo onde todas as crianças crescem em amor e segurança. 

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