"Não estou satisfeito com o sistema de saúde na Guiné-Bissau. Muitos jovens como eu estão a morrer por falta de oxigénio enquanto estão hospitalizados, os médicos não estão devidamente preparados e as clínicas não estão equipadas como deveriam estar", diz Santiago.

"Não há empregos para nós. Conheço algumas pessoas que terminaram o ensino secundário ou universitário e estão em casa sem emprego. Há poucas oportunidades para nós, e ainda assim, há muito que precisa de ser feito. Acredito que muitos dos jovens como eu têm o que é preciso para ajudar. Precisamos da oportunidade de nos aperfeiçoarmos, crescer academicamente e profissionalmente para fazer algo benéfico com as nossas vidas".

A maioria dos amigos mais velhos de Santiago que já terminaram os estudos estão hoje desempregados e tentam ganhar a vida através de trabalhos pontuais como pedreiros ou carpinteiros ocasionais.

Santiago tenta dividir o seu tempo entre a escola e um trabalho de secretariado no Grupo de Poupança e Crédito. No entanto, a sua escola está em greve há dois meses, então o jovem decidiu começar o seu próprio negócio. Graças às suas poupanças, viajou para Bissau pela primeira vez. Lá, um amigo emprestou-lhe uma máquina de pressão que utiliza para lavar carros, motos ou motocicletas. Este dinheiro extra vai para as suas poupanças e também para ajudar a mãe.

Santiago criou um negócio
para poupar e ajudar a família

A mãe, Segunda, frequenta as aulas de alfabetização e o Grupo de Poupança e Crédito criado graças ao Programa de Fortalecimento Familiar (PFF) das Aldeias de Crianças SOS em Canchungo. Segunda nunca tinha ido à escola e também não tinha um papel ativo a liderar a família.

"O PFF ensinou-me a soletrar, a escrever o meu nome, a ganhar e a poupar dinheiro. Sinto-me mais capacitada e confiante. Sei que posso servir de exemplo para as minhas filhas. Encorajo-as a estudar, a trabalhar e a tornarem-se independentes para que possam sustentar os seus filhos”, confessa Segunda.

A mãe de Santiago encoraja-o a trabalhar mais e elogia a sua determinação para não desistir do seu sonho de ser médico. Os trabalhadores locais apoiam Santiago no seu negócio, mantêm uma relação próxima e dão-lhe conselhos sobre o seu futuro. “Ele inspira-se nos mais velhos e mantém-se focado nos seus objetivos", diz ela, esperançosa.

*Nome alterado para proteger a privacidade do jovem.
*Texto e fotografia de Elsa Cardoso Pereira.