Maria Minas

// Uma viagem, reflexões e perguntas

Conversa com especialista

Maria Minas

Doutorada em Psicologia, com especialidade em Psicologia Clínica, abordagem sistémica. Professora Assistente Convidada na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, desde 2018. Ao longo do seu projeto de doutoramento visitou 16 projetos sociais e educacionais inovadores em 9 países. 

A propósito deste tema, partilho as aprendizagens e reflexões que fui fazendo ao longo de alguns anos em que tive a oportunidade de passar tempo a conhecer comunidades que se debatiam com pobreza e diversos projetos que procuravam fazer a diferença nesta área. 

Esta viagem de investigação foi revolucionária para mim. Saí dos lugares que me eram conhecidos, fui acolhida na vida e nos contextos de quem enfrentava adversidade e falta de condições. Mergulhar assim nestas facetas da vida, enquanto procurava compreender o que era comum nas histórias que iam partilhando comigo, foi absolutamente transformador.

Com a missão de investigar, levava comigo a questão: “O que preocupa e procuram estas pessoas [participantes e profissionais das comunidades e projetos que estava a conhecer]?” As respostas emergiram de forma múltipla e foram ganhando uma voz coletiva: “O desejo de ser alguém e de ter impacto positivo…” Perante estas respostas, uma nova questão: “E o que é necessário existir para que esta aspiração se concretize para todos?” E, assim, fui guiada numa jornada complexa, bonita e inspiradora, em que aprendi que os processos de reciprocidade, de dar e de receber são centrais nesta “equação”. 

Este preâmbulo situa o meu olhar sobre a temática do empoderamento. A ideia de empoderar ocupa um espaço importante na maneira como refletimos e atuamos na área social. É um conceito radicado em processos de poder. 

Considero que, dependendo da forma como entendemos esta ideia, poderemos pô-la em prática de forma mais ou menos virtuosa. Penso que o ponto fundamental, ao considerarmos o processo de empoderamento, é se nos incluímos neste processo como “agentes em transformação”

Se o fizermos, acredito que estaremos a potenciar o que um dia ouvi chamar de processo de inter-change-making, uma transformação conjunta que fomentará a evolução individual e coletiva. 

Se só considerarmos o que fora de nós carece de empoderamento, vendo-nos apenas como “agentes de transformação”, poderemos estar a reforçar os padrões que procuramos transformar. Pois, de forma subliminar/no ângulo cego, estaremos a comunicar uma mensagem de superioridade, de solução externa, de necessidade de “correção” do outro. 

Considero que o empoderamento deve andar, assim, de mãos dadas com o espírito de reciprocidade, de influência mútua, de bidirecionalidade, de mudança conjunta. 

Tendo partilhado de forma breve a minha perspetiva sobre o tema, pensei que poderia ser mais útil deixar o convite para um momento de journaling, com perguntas que remetam para a sabedoria da nossa experiência e cujas reflexões nos tragam pistas para embarcarmos neste processo multiplamente transformador de nos “inter-empoderarmos”: 

Começando pela experiência pessoal… 

// Que aspetos numa relação potenciam a minha confiança, segurança? 

// Como ganho sentido de poder e agência pessoal? 

// Quais são as características comuns aos espaços a que sinto que pertenço e em que o meu valor é reconhecido? 

// Que histórias de sucesso me ocorrem ao pensar em empoderamento? O que fez a diferença? 

 

Pensando num caso concreto… 

// Como reconheço sinais de empoderamento nesta pessoa/grupo/comunidade? Que experiências considero terem contribuído para desencadear estes processos? 

// Em que áreas da nossa relação existe balanço de poder e fluxo bidirecional de influência? 

// De que forma é que esta pessoa/grupo/comunidade me inspira e contribui para o meu crescimento? 

// Que estratégias posso colocar em prática para potenciar o espírito de inter-change-making e de inter-empoderamento? 

© Todas as imagens são ilustrativas

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