Uma Aldeia cheia de amigos
Paula não se recorda da mudança e da entrada na Aldeia SOS. Sabe apenas o que lhe contaram os seus irmãos mais velhos.
“A minha irmã ganhou o primeiro par de sapatos quando nos mudámos para a Aldeia SOS, com seis anos. A vida por lá era muito diferente daquilo que estávamos habituados. Era uma vida boa e nunca sentimos falta de nada”, diz Paula enquanto busca as memórias da infância no livro de fotos.
As experiências de que mais se lembra são a excursão anual de Natal, quando iam ao circo, e a colónia de férias do Meco, no verão: “Toda a Aldeia se mudava para umas casinhas próximas da floresta e da praia, e brincávamos o dia inteirinho. Era a melhor parte de crescer na Aldeia SOS; tinha amiguinhos por todo lado. Se nos zangássemos com um, havia sempre outro para brincar.”
Irmãos biológicos ficam juntos
Quando as Aldeias de Crianças SOS acolhem irmãos, asseguram-se sempre que estes ficam juntos na mesma casa. Também foi o caso de Paula e dos seus seis irmãos. Além deles vieram mais duas irmãs de uma outra família e um menino que estava sozinho.
“Estou muito grata por não termos sido separados e enviados para lugares diferentes, pois os meus irmãos são uma parte importante da minha história. Ainda hoje temos um laço muito forte e falamos com muita frequência”, diz Paula.
Nenhum dos sete irmãos tem contacto com o pai biológico. No entanto, voltam a Bicesse, todos os anos em outubro, para celebrar o aniversário da Aldeia SOS, junto das crianças que ali residem hoje e outros antigos residentes.
Um amor dinamarquês
Com 18 anos, Paula mudou de casa. Conseguiu um emprego como assistente de escritório e encontrou um apartamento onde foi morar com uma amiga da Aldeia SOS. “Eu estava tão orgulhosa. Sentia-se adulta e livre e estava ansiosa para poder tomar as minhas próprias decisões sobre a minha vida. Aliás, ser adolescente é isso, não é?” diz ela, sorrindo.
Um dia, como tantos outros, Paula foi sair com os amigos depois do trabalho e conheceu Kent, dinamarquês que estava a fazer um Interrail pela Europa. Os dois jovens conversaram e ficaram namorados. Depois de três anos de visitas durante as férias passadas em conjunto, conversas caras de telefone e trocas demoradas de cartas, Paula foi morar com Kent na Dinamarca. Ela tinha 24 anos quando casaram e hoje têm dois filhos, com 19 e 22 anos.
*Entrevista realizada pelas Aldeias de Crianças SOS Dinamarca. Agradecemos à Paula a simpatia e disponibilidade em partilhar a sua comovente história na nossa revista.