Entrevista a Manuel Salvador

Como e quando começou a sua relação com a Aldeia SOS de Bicesse? O que faz atualmente?

Tudo começou há 20 anos, quando fui visitar uns amigos à Aldeia SOS da Guarda que me entusiasmaram a candidatar-me ao cargo de Diretor da Aldeia SOS de Bicesse, então “órfã” dessa figura.

Fiz estágio de preparação nas Aldeias SOS da Guarda e de Gulpilhares, e só viria a conhecer a Aldeia SOS de Bicesse uns meses mais tarde, mas já a tinha no coração desde esse primeiro momento em que ouvira falar das suas Cuidadoras de Referência, das suas crianças, das suas Casas e dos seus anseios.

Atualmente, sou o responsável pela área dos Jovens a nível nacional. Em Bicesse, acompanho diretamente os Jovens das Casas de autonomia, e nas outras Aldeias SOS faço acompanhamento das equipas na implementação da política de Jovens e ex-Residentes.

É como se a minha capacidade de entrega se tenha alargado às três Aldeias SOS, e onde quer que esteja procuro estar de alma e coração em tudo que faço.

 

Que memórias especiais guarda das crianças que lá cresceram?

Guardo algumas memórias de incerteza, de angústia e de preocupação, mas as mais especiais são as que estão carregadas de afetos positivos. Fui aprendendo a relacionar-me com cada pessoa de maneira singular, e a reconhecer o lado gratificante desta interacção.

Inevitavelmente, têm devolvido muito do carinho e da atenção que lhes tenho dedicado. Revela-se muito compensador pensarmos que quando começam a dá-lo é porque já o têm em abundância.

 

E para si, qual o momento mais marcante nos anos em que esteve ligado a esta Aldeia SOS?

Fiquei marcado por inúmeros gestos de partilha, de abnegação e de compromisso, que possibilitaram a construção conjunta de um relacionamento forte e duradouro. Todas as vezes em que me sentei à mesa da refeição familiar, sempre que foi preciso ir mais longe na invenção do sentido das frustrações, em vivências de intensa frontalidade face à renúncia e à ameaça, gesto a gesto consolidámos os valores com que nos definimos ao longo dos anos.

 

O que deseja para esta Aldeia SOS, nos próximos anos?

O meu maior desejo para esta Aldeia SOS é que continue a ser um local onde as crianças e jovens possam usufruir de um acolhimento maternal num ambiente familiar genuíno, onde novas mães sociais encontrem a confiança, a segurança e o suporte emocional indispensáveis para se aventurarem na sua missão educativa.