Olá, chamo-me Carla. Sou Educadora Social de formação. Desde 2003 que desenvolvo a minha atividade profissional na área do acolhimento residencial de crianças e jovens. Mas, em 2018, propus-me a um novo desafio e, curiosamente, na apresentação do meu currículo escrevi: “Os desafios são sempre oportunidades!”. Tinha razão! Integrei a Aldeia SOS de Gulpilhares, em julho desse ano. Fui muito bem recebida e encontrei no bom humor da equipa um elo comum que me fez sentir como “peixe na água”. De facto, nesta realidade emocionalmente desgastante, o humor faz toda a diferença no bem-estar dos colaboradores, refletindo-se posteriormente nas crianças e jovens.

Falando em desafios… o primeiro desafio que me colocaram foi logo no meu primeiro mês: participar com as crianças e jovens nas férias no Meco! Foi incrível perceber a história daquela estrutura e a importância daqueles momentos. É certo que a casa está a ficar velhinha, precisa de obras, mas as experiências que miúdos e graúdos contam e as marcas que permanecem no tempo, superam as dificuldades e, acima de tudo, promovem relações e memórias saudáveis, que perduram para além do verão!

A minha função está intimamente associada à intervenção com as crianças e jovens, sustentada num trabalho de equipa com as cuidadoras e restantes elementos da equipa. Sou “educadora” de uma das casas e para além de funções associadas diretamente ao acompanhamento e orientação das crianças e jovens a vários níveis (educação, saúde, família, comportamento, autonomia, entre outros), também tenho a meu cargo a gestão da casa, em colaboração com as cuidadoras.

Existem algumas palavras essenciais na nossa função: relação, empatia, confiança, verdade, amor e carinho. A capacidade de nos colocarmos na “pele” das crianças e jovens que acompanhamos ajuda-nos a compreender as suas angústias, os receios e as desconfianças que sentiram em relação ao passado ou sentem em relação ao seu futuro. Uma relação próxima e verdadeira, permite-nos ser confiáveis, mostrando- -lhes que é possível acreditar no outro, na mudança e num futuro mais colorido. Esse caminho tem claramente que ser percorrido lado a lado, nas vitórias, mas também nos momentos mais difíceis. O carinho e o amor não são “treináveis”, são sentidos e demonstrados por cada um de nós, crianças, jovens ou adultos, de diferentes formas.

“O meu trabalho” é mais que um trabalho, é uma forma de viver, tal é a intensidade, a dedicação e o desgaste emocional com que nos deparamos diariamente. A certeza de que fizemos a diferença na vida de uma criança pode não ser percetível a curto ou médio prazo, mas ao proporcionamos ferramentas a estas crianças e a possibilidade de uma vida melhor, fica-nos a sensação de dever cumprido.