#Educação

Formação e acompanhamento

escolar para crianças e jovens

Direção Nacional de Programas

Pensar a relação da criança ou jovem com a escola implica articular diferentes dimensões: o bem-estar físico e psicológico, o gosto pela aprendizagem, a relação com os pares e com os professores e, sobretudo para os mais velhos, a antecipação de uma ligação a uma futura área profissional. O desenvolvimento de competências, a aquisição de conhecimentos para uma cidadania plena e a construção da sua identidade são também vetores a considerar.

A situação de vulnerabilidade social das crianças e jovens pode constituir-se como um fator preditor de uma possível situação de insucesso [1] [2]. Podendo contrariar esta situação, a escola pode constituir-se como uma oportunidade de aprendizagem e de experiência, de resiliência e de promoção de aspirações para o futuro, e promovendo também relações de sociabilidade. No entanto, há que reconhecer também os riscos de um ambiente escolar que não seja seguro e protetor. Por isso é tão importante a definição dos objetivos, estratégias, escolhas, opções de formação e de acompanhamento escolar de cada criança e jovem.

A realização de um acompanhamento permanente, de apoio ao estudo e de definição conjunta de planos educativos, e a monitorização de resultados escolares permite:


Traçar tendências e perfis escolares;

Identificar pontos fortes e fragilidades nas áreas disciplinares existentes no ensino;

Antecipar estratégias de apoio mais específicas e opções formativas selecionadas pelas crianças e jovens acompanhadas pelos nossos Programas.

A quase totalidade das crianças e jovens que acompanhamos no Programa de Cuidados Alternativos encontram-se inseridas no sistema de ensino. Mais de metade frequenta o ensino regular. Tanto pelas características individuais como pela procura de uma formação escolar mais adaptada aos seus interesses pessoais, há uma percentagem significativa de crianças e jovens a frequentar cursos profissionais e outras com percursos escolares alternativos, ensino especial ou cursos de educação e formação de adultos. 

Apesar da diversidade de situações e de níveis de ensino, regra geral esta é uma dimensão bem concretizada nas Aldeias de Crianças SOS. Sustentamos esta observação nas taxas de transição que se verificam ano após ano, nas melhorias de nota (ainda que ligeiras) ao longo do ano escolar e na proporção de boas notas.

Estes resultados parecem não confirmar a ideia de que «as crianças em acolhimento residencial, ao abrigo de medidas de promoção e proteção, são um dos públicos mais vulneráveis ao sucesso educativo»[4]. Tal é possível pelo apoio das equipas no acompanhamento da dimensão escolar destas crianças e jovens. 

Cerca de um terço tem medidas de apoio especiais por identificação de necessidades educativas especiais.

A transição de ano escolar ou finalização do seu ciclo de estudos aconteceu para quase todas as crianças e jovens das Aldeias de Crianças SOS no ano letivo passado. Esta tendência tem sido observada ao longo dos anos, inclusive quando a pandemia veio alterar o que eram as rotinas e as vivências escolares habituais. A transição de ano escolar ilustra bem a importância que a formação assume no processo de desenvolvimento e de construção de bases sólidas destas crianças e jovens.

Também entre as crianças e jovens que são acompanhadas pelo Programa de Fortalecimento Familiar, a taxa de transição de ano escolar é superior a 90%. Este não é, contudo, o foco de intervenção das equipas dos CAFAP, mas ilustra também o ambiente de estabilidade junto das crianças e jovens, e que se repercute nos resultados escolares, que a intervenção realizada consegue estabelecer.

Os bons resultados escolares são sobretudo visíveis em disciplinas mais de cariz geral, de formação social e de expressão artística ou física. As maiores dificuldades surgem em disciplinas basilares, como a matemática ou o português, ou noutras que remetem para conhecimentos mais específicos na área das ciências exatas. A identificação destas fragilidades, sobretudo se reincidentes face a anos anteriores, permite uma planificação de apoio ao estudo e ao desenvolvimento de competências específicas, antecipando necessidades de apoio extra (e.g. através de explicações em determinadas matérias escolares) e ou a preparação de exames de final de nível de ensino. 

O olhar atento para cada plano individual, cada potencialidade e cada dificuldade, permite que todos sejam iguais, ainda que na diferença. Independentemente das situações com resultados escolares mais baixos, o que importa é perceber de que forma a escola e a casa de acolhimento podem contribuir para a construção do futuro de cada uma destas crianças e jovens e, individualmente, para a sua integração. A preparação para matérias/disciplinas específicas e um trabalho permanente de articulação com os professores pode ser uma estratégia que permita reforçar as competências e atenuar as fragilidades, uma vez que «a relação destas crianças com o professor influencia a forma como cada uma se motiva e se dedica a cada disciplina»[4]

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Este artigo foi publicado em janeiro/2023

[1] Berridge, D. (2012). Educating young people in care: What have we learned? Children and Youth Services Review, 34, 1171-1175. https://doi.org/10.1016/j.childyouth.2012.01.032 

[2] Delgado, P., Carvalho, J.M.S. e Correia, F. (2019), Viver em acolhimento familiar ou residencial: O bem-estar subjetivo de adolescentes em Portugal, Psicoperspectivas, vol. 18, núm. 2. Acedido em: https://www.redalyc.org/jatsRepo/1710/171060287008/html/index.html#B2 

[3] Dewey, John. (2007). Democracia e Educação. Lisboa: Didática Editora.

[4] Ferreira, C. (2020). A escola pública portuguesa: as crianças em acolhimento residencial e os caminhos da inclusão. Universidade do Porto. Tese de doutoramento em Ciências da Educação.

As Aldeias de Crianças SOS são a maior organização do mundo a apoiar crianças e jovens em perigo ou em risco de perder o cuidado parental.
 

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