A criança que precisou de ser acolhida, está muitas vezes inserida numa cadeia geracional de dinâmicas e padrões relacionais profundamente disfuncionais, podendo, no acolhimento familiar, experimentar outros modelos de relação e cuidado, que lhe permitam ressignificar vínculos afetivos e imagens parentais internas, contribuindo assim para o corte com modelos transgeracionais de relação patológicos. A sua história não se apaga, nem se esquece, podendo até ser repetida com a família de acolhimento, mas é passível de ser traduzida e ressignificada para que não se torne devir.
Assim se percebe como é importante para a criança, desde logo, tão cedo quanto possível, conhecer e compreender a sua história de vida e o vivido até ao acolhimento. É a sua história que a funda, à criança, enquanto sujeito, e a distancia da objectificação por parte de quem dela cuida. Um bebé com dias ou horas de vida tem já uma história que a torna uma pessoa singular, com vivências e experiências próprias que constituem a sua identidade (onde nasceu, como correu o parto, e a gravidez, quem são os pais e qual a sua história, porque foi escolhido o nome que tem…).