Cuidado de  Cariz Familiar

o modelo diferenciador das Aldeias de Crianças SOS

Todas as crianças e jovens têm o direito a viver num ambiente protetor, de apoio e de cuidado, promotor do seu pleno potencial. As crianças sem cuidados parentais adequados às suas necessidades, estão em situação de particular risco de lhes ser negado este direito.

 

Sabemos que a família é o melhor local para a criança crescer: é fundamental para o estabelecimento de vínculos seguros e para o seu desenvolvimento integral. Espera-se que os pais tenham esta função de cuidado. São eles, em conjunto com o filho, que formam o que se entende por família.

 

Há, no entanto, muitas situações em que os pais podem não ser capazes de cumprir a função de cuidar, ficando as crianças desprovidas de cuidados e proteção parentais adequados, podendo mesmo, em casos extremos, ficar expostas a situações de maltrato.

São diversas as situações em que estas crianças podem ficar:

desde ao cuidado de irmãos
adultos ou da família alargada

É nesta última situação que se situam as famílias de acolhimento e as casas de acolhimento residencial, como modalidades de cuidado e proteção alternativos ao contexto de perigo vivido pela criança na família de origem. Acrescendo a importância que seja, por isso, reparador das suas feridas emocionais e potenciador de autonomia e autoria.

 

Mesmo na necessidade de ativar cuidados alternativos, é fundamental um ambiente mais próximo possível do familiar, particularmente para as crianças mais pequenas, tendo havido nos últimos anos um ajuste legal no nosso país neste sentido.

 

É precisamente esta a característica que desde sempre diferenciou o modelo de acolhimento das Aldeias de Crianças SOS, em todo o mundo e também em Portugal, cuja intencionalidade é a de conferir um cariz mais familiar possível aos cuidados prestados.

Este modelo de cariz familiar, como é designado, pode ser explicado à luz do contexto que é criado para o acolhimento destas crianças e jovens: 

Com base neste contexto, também é expressão desta vivência de cariz familiar do modelo diferenciador das Aldeias de Crianças SOS, a possibilidade de acolhimento na mesma Casa SOS quer de meninas e meninos, mais novos e mais velhos, permitindo assim a oportunidade de manter irmãos juntos em acolhimento, sempre que se verifique no seu melhor interesse.

 

Para além deste cuidado que é prestado por esta equipa de cuidadores de cada Casa SOS, a criança tem acesso a suporte profissional adicional, nomeadamente ao Serviço Social, que apoia especificamente nos processos sociais e jurídicos da criança, e a psicólogos ou outros que podem trabalhar diretamente com a criança ou com a equipa da Casa SOS. Acresce-se aqui o suporte dos pares de toda Aldeia SOS (no conjunto das várias Casas SOS existentes), bem como da comunidade envolvente, já que a integração comunitária é também um princípio essencial da Associação de Aldeias de Crianças SOS.

Outro princípio fundamental da atuação das Aldeias de Crianças SOS é a abordagem colaborativa com as famílias de origem das crianças e jovens, cuja manutenção da relação é um direito fundamental, sempre que no seu superior interesse. Às crianças e jovens, quando acolhidos, é definido um projeto de vida pelo conjunto das equipas que o acompanham, com os próprios e as suas famílias, que pode passar pela reintegração familiar (havendo uma intervenção paralela com a família de origem para sanar os fatores de risco), pela adoção ou apadrinhamento civil, ou pela permanência no acolhimento até à vida independente.

 

Torna-se assim evidente a responsabilidade que requer este trabalho nas Aldeias de Crianças SOS, que integra uma vivência em acolhimento reparadora de cariz familiar com a dinamização ágil dos projetos de vida das crianças que lhe garantam o seu superior interesse.

 

É por todas estas características de cuidado que este modelo diferenciador das Aldeias de Crianças SOS se torna particularmente direcionado para responder às necessidades de cuidado de irmãos - que poderiam de outra forma ter que ser separados -, para crianças com necessidades psicossociais específicas - às quais um ambiente de cariz familiar normalizador se torne particularmente reparador -, bem como para as crianças que se preveja a necessidade de acolhimento até à vida independente. Como tal, este cuidado de cariz familiar das Aldeias de Crianças SOS acrescenta um evidente valor diferenciado e assume um papel importantíssimo nas opções de cuidado alternativo do sistema de promoção e proteção português.

 

Em suma, o cuidado prestado por este modelo de cariz familiar combina elementos de cuidado profissional com elementos de vivência familiar, com ligações reparadoras genuínas e duradouras. Crianças com diferentes necessidades são apoiadas de uma forma estruturada e intencional, enquanto tem a oportunidade de viver e crescer num ambiente que - nas suas características, dinâmicas e relações - se aproxima ao de uma família.