Neste caminho de pensarmos continuamente sobre a nossa missão para com as crianças e jovens em situação de vulnerabilidade têm sido fundamentais os encontros com peritos que nos fazem pensar e dar um sentido crescentemente mais reparador à nossa tarefa essencial. Exemplo disso é o nosso consultor e amigo Richard Rollinson, estadunidense a residir no Reino Unido, tem um enorme currículo na área do acolhimento terapêutico de crianças, de onde destacamos a direção da Mulberry Bush School, da qual é hoje Presidente dos Curadores.

Desde o início de 2019 que é consultor permanente da Associação, intervindo diretamente com as equipas das nossas Aldeias SOS. De reflexão e de generosidade imensa, apoia-nos continuamente a manter a criança nas nossas mentes e nos nossos corações.

O que é que o liga às Aldeias de Crianças SOS em Portugal e ao país?

A minha ligação com a Associação deve-se a uma reunião que produziu uma maravilhosa “reunião de mentes”. Eu já tinha ouvido falar do trabalho das Aldeias de Crianças SOS no mundo. Um psiquiatra amigo fez um voluntariado vários anos numa Aldeia SOS no Uganda. Depois, no Porto há 5 anos, conheci a Diretora da Aldeia SOS de Gulpilhares na altura, a Cristina Cabeleira. Depois de uma longa e fascinante conversa sobre a organização, o seu trabalho e o seu compromisso com a mudança, fiquei muito interessado em apoiar a missão de empoderar crianças altamente vulneráveis a transformarem-se e a crescer.

Portugal é um país e um povo que rapidamente passei a admirar e a amar por muitos motivos. Uma rota que combina muitos aspetos é a Gastronomia; nenhuma surpresa aqui! Frutos do mar, carnes grelhadas, queijos, pães, café e as ocasionais (e medicinais!) taças de vinho maravilhoso e as excelentes configurações para desfrutar de tudo. Mas não é simplesmente comida boa, muitas vezes, o próprio espírito caloroso e atencioso das pessoas, também é um Bom Alimento - algo muito mais do que apenas a comida. A atenção carinhosa no preparo dos alimentos proporciona não só uma refeição de boa qualidade, mas também a partilha de uma boa experiência e tempo JUNTOS. É isso que transforma um bom alimento numa boa “nutrição”. E os portugueses são especialistas em oferecer esta experiência gastronómica e comunitária transformadora.

Qual a importância da Esperança no trabalho com crianças e jovens em acolhimento? 

Resumidamente, a ESPERANÇA dá-nos o foco no trabalho com estas populações, que, por sua vez, lhes dá uma experiência que elas estão desesperadamente a precisar. Muitas das crianças e jovens acolhidos nas Aldeias SOS sofreram negligência, dor e maltrato precocemente nas suas vidas. E por isso têm pouca expectativa ou confiança que o mundo adulto vá reconhecer ou, de forma previsível, responder às suas necessidades de:

Cuidado;

Segurança;

Pertença

Crescimento saudável.

No entanto, é essa mesma expectativa e confiança, a fundação básica da esperança. Lamentavelmente, frequentemente estas crianças sentem-se desamparadas e sem esperança mesmo perante a confiabilidade que estes adultos têm para oferecer.

Para que estas crianças sejam capazes de se sentir com esperança de que o mundo adulto pode ser confiável da forma que elas precisam, nós precisamos de lhes proporcionar e continuar a proporcionar o nosso cuidado e preocupação cuidadora. Nós podemos e devemos agarrar a ESPERANÇA por elas, porque ao início elas não o conseguem por si próprias. E temos que segurar essa Esperança e agir sobre ela pelo tempo que for necessário até que estas crianças comecem a acreditar que podem ser cuidadas e protegidas. É aí que a criança pode começar a segurar, ela própria, a Esperança connosco – que as suas vidas agora, e no futuro, serão diferentes das suas experiências penosas do passado.

O ex-dissidente e primeiro Presidente da República Checa, Vaclav Havel, captou a essência dessa ESPERANÇA que devemos manter nos nossos corações e mentes. Deixemo-lo passar as suas palavras para nós agora para nos ajudar a seguir em frente: 

 “Ou temos a Esperança dentro de nós ou não a temos. É uma dimensão da alma e não é dependente de uma observação particular do mundo. É uma orientação do espírito, uma orientação do coração. Ela transcende o mundo que é imediatamente experimentado e está ancorada em algum lugar além dos seus horizontes. Esperança, neste sentido profundo e poderoso, não é o mesmo que a alegria porque as coisas correm bem ou a disposição para investir em empresas que estão obviamente a caminhar para o sucesso. Em vez disso, é a capacidade de trabalhar por algo porque é Bom, não apenas porque representa uma oportunidade de sucesso. Esperança definitivamente não é o mesmo que otimismo. Não é a convicção de que algo vai dar certo, mas a certeza de que algo faz sentido independentemente de como corra. É a esperança, acima de tudo, que dá força para viver e experimentar continuamente coisas novas”. 
 

Tenha esperança!

“Dias de Sol” é o tema desta edição da revista. O que lhe surge no pensamento sobre este tema? 

Imediatamente lembrei-me da canção do genérico do programa Rua Sésamo na América. Era muito conhecido na altura dos meus filhos e, agora, dos meus netos. Começa assim: “Dias de Sol a varrer as nuvens no meu caminho para onde o ar é doce... ”.

É lindo estar sob um céu brilhante e ensolarado - uma experiência muito mais comum em Portugal do que aqui no Reino Unido! Embora que quando o experimentamos aqui, sentimos como um presente maravilhoso. E, em todo o mundo, os dias de sol podem frequentemente ser associados a dias felizes e doces. Ainda assim, para sermos genuinamente capazes de nos sentir “felizes em dias de sol”, precisamos às vezes de conhecer e vivenciar ocasiões de “tristeza num dia de nuvens e até de chuva”. Cada um destes dias dá sentido a si mesmo por referência e interação com o outro. Juntos, eles oferecem experiências de e para uma diferença equilibrada. Sem esta experiência, corremos o risco de estar sujeitos a um desequilíbrio perturbador - produzindo rápidas oscilações entre estados de euforia de um “brilho que nos cega” e estados de tristeza “sombria”. 
 


 

Os Dias de Sol precisam de ser desfrutados no seu curso natural, mas também por serem um dom de alívio dos tempos mais sombrios que todos nós às vezes experimentamos na ausência do sol literal e figurativo. Portanto, precisamos de algumas nuvens e gotas de chuva para apreciar completamente a luz do sol. E as nuvens [emocionais e meteorológicas] às vezes têm outro presente para nós. À medida que começam a recuar e o sol surge novamente, os raios de sol podem encontrar as últimas gotas de chuva [ou lágrimas] e… alegria! - um Arco-íris glorioso aparece, inspirando a nossa admiração e alegria [e o nosso alívio e crença]! Nuvens e chuva não se manterão para sempre (mesmo no Reino Unido!). Os Dias de Sol podem e irão chegar para varrer essas nuvens. No mundo e nas nossas vidas.