À conversa com Rafael Borralho, médico voluntário no Campo de Moria em dezembro de 2017
Como eram as condições no campo?
A maior parte das pessoas vive em tendas e os restantes em pré fabricados. Quando lá estive, o campo já estava sobrelotado e as condições em que as famílias viviam eram desumanas. As condições de higiene eram más, não existindo, por exemplo, casas de banho suficientes e por isso muitos refugiados tinham de se deslocar às áreas de mato à volta. Esta questão, especialmente durante a noite, representava um enorme perigo, principalmente para mulheres sozinhas.
Quais eram as tuas tarefas no campo?
A principal era estar na clínica do campo (um pré-fabricado) com os materiais básicos de observação e pequena cirurgia para observar pacientes. Todos os dias havia uma fila enorme e tínhamos um voluntário para organizar as pessoas e prevenir potenciais conflitos. Estes conflitos existiam sempre porque as pessoas estavam, na maior parte, em situações de desespero com as suas famílias, potenciadas não só pelas condições do campo mas também por não saberem quando, como e para onde iriam sair do campo. Conheci famílias que estavam há dois anos no campo...
Só em casos muito graves podíamos enviar para o hospital. Por exemplo, na altura, não havia médico psiquiatra, por isso a única coisa que podíamos fazer era ouvi-los. E havia muitos casos, até porque a sua situação é um factor de risco para algumas doenças psiquiátricas. Muitas pessoas que não sabiam da sua família porque se tinham separado deles e outros eram os únicos sobreviventes da família...Por vezes, também estava de vigia para a chegada de novos barcos.