Instabilidade cria riscos cada vez maiores para as crianças

Violência, distúrbios e agravamento das condições humanitárias aumentam os riscos de separação familiar e abuso de crianças.

As Aldeias de Crianças SOS planeiam apoiar até 1200 crianças do norte de Burkina Faso, onde a instabilidade e distúrbios contribuem para a deterioração da situação humanitária.

 

A violência desalojou mais de 135 mil pessoas no norte de Burkina Faso, que também abriga 25 mil pessoas que fugiram dos distúrbios da cidade vizinha Mali. O novo programa de emergência das Aldeias de Crianças SOS  concentra-se em disponibilizar espaços adequados e apoio educacional às crianças que estão em risco de separação, violência e abuso.

Estivemos à conversa com Madougou Mamoudou, responsável pelo Programa de Emergência da Região da África Ocidental e Central das Aldeias de Crianças SOS, que abrange no total 18 países. 

 

Porque é importante uma ação imediata no Burkina Faso?

O número de pessoas a necessitar de ajuda aumentou exponencialmente nos últimos meses. Estas pessoas foram deslocadas das suas casas e estão sujeitas a vários tipos de violência, especialmente mulheres e meninas. Em muitos casos, foi negado às crianças o acesso à educação, o que terá consequências negativas no seu futuro porque correm o risco de se tornar uma geração perdida. Várias meninas foram também abusadas o que terá consequências traumáticas por muitos anos.


Muitas pessoas não têm acesso a serviços básicos, não têm comida suficiente para comer e as pessoas que tiveram a gentileza de hospedá-las esgotaram os seus próprios recursos. A situação é de tal modo preocupante que se não fornecermos assistência imediata poderá ficar ainda pior. Em situações destas, a nossa responsabilidade é ajudar e apoiar as crianças e famílias mais vulneráveis de acordo com a nossa missão.

burkina faso ajuda emergencia

Qual é a principal causa desta emergência?

Isto tornou-se uma emergência humanitária complexa porque estamos a assistir a diferentes situações a acontecer ao mesmo tempo e afetando as mesmas pessoas. Estas pessoas estão a viver no meio de um conflito entre grupos étnicos e ataques esporádicos que os forçam a deslocar-se . Esta região também enfrenta problemas de insegurança alimentar o que torna a situação ainda mais difícil. As necessidades são críticas e é importante prestarmos a assistência necessária às crianças e famílias que se encontram nestas situações tão vulneráveis.

Você já mencionou os riscos para as meninas. Quais são os riscos para os meninos?

Como isto é principalmente um cenário de guerra, os meninos são persuadidos a juntarem-se a grupos armados. Como não têm nada a perder, são facilmente atraídos por estes grupos. Uma vez recrutados, são doutrinados para um sistema de violência e isso é prejudicial para eles e para a sociedade nas próximas décadas.

 

O Burkina Faso está localizado numa região onde a instabilidade, o deslocamento forçado e a pobreza colocam as crianças em risco. O que pode ser feito para ajudar?

As Aldeias de Crianças SOS não têm, infelizmente, capacidade de resposta a todas as necessidades. A nossa estratégia é identificar quais as áreas onde podemos adicionar valor. Isto pode ser feito em parceria com organizações existentes ou em parceria com as comunidades. O nosso objetivo é evitar a separação familiar e, se houver situações em que seja necessário intervir, damos o suporte necessário. Estamos lá para prestar assistência e apoio sempre que podemos num terreno humanitário muito complexo e dinâmico.

 
Que lições aprendeu ao lidar com as emergências de outros países com desafios semelhantes como a República Centro-Africana e Chade?

O maior desafio do nosso trabalho nestes conflitos é conseguir chegar às populações mais vulneráveis. A segurança e proteção dos nossos funcionários é primordial. Dito isto, para oferecer assistência torna-se muito difícil porque não há um corredor humanitário que nos permita ter uma passagem segura de acesso às pessoas e, em muitos casos, não há parceiros suficientes a trabalhar nessas comunidades devido à falta de segurança.
Na República Centro-Africana, por exemplo, o governo não tem capacidade para garantir a segurança dos trabalhadores humanitários. É uma situação muito difícil e por isso é importante que nos certifiquemos de que a nossa estratégia passa pela criação de parcerias e cooperação humanitária. Só trabalhando em conjunto podemos contornar alguns dos desafios.
 

Quais são os principais riscos para as crianças nesta região?

O maior risco é a falta de proteção. As meninas estão expostas à exploração sexual, ao casamento infantil e à violência baseada em género. Os meninos mais jovens, estão sujeitos a recrutamento por grupos armados. Estes são os principais problemas que neste momento as crianças enfrentam nas áreas do Chade, República Centro-Africana, Burkina Faso e Camarões.

Às vezes, estas situações são chamadas de "emergências esquecidas", apesar do deslocamento em massa e da instabilidade que elas criam. Porquê?

Estas são emergências que surgiram lentamente, mas o impacto sobre a população é extremo. A comunidade humanitária precisa estar mais envolvida na defesa e nas campanhas para dar a conhecer esta situação . Não houve comunicação suficiente sobre a situação real e não houve financiamento suficiente. Não devemos esquecer que nestas situações, as crianças são sempre as mais vulneráveis . Além da falta de comida, água, saúde e abrigo, existe um alto risco de separação da família, exploração, abuso e falta de oportunidades educacionais.
 

Qual a importância do trabalho das Aldeias de Crianças SOS nestes países?

As Aldeias de Crianças SOS são uma das primeiras Organizações a fornecer apoio psicológico a crianças afetadas por traumas e a proporcionar um espaço físico adequado para estas crianças. Somos reconhecidos pelos nossos espaços, os Espaços Amigos das Crianças, porque oferecemos atividades integradas, apoio à saúde mental, apoio psicológico, apoio alimentar e nutricional e formação para educadores.


Os nossos espaços são seguros onde as crianças se sentem protegidas, e isso agrega valor à maneira como cuidamos das crianças. As crianças que têm necessidades especiais são reencaminhadas para profissionais especializados. O nosso trabalho tem sido reconhecido e valorizado, e pretendemos que assim continue.

Mais sobre a nossa resposta de emergência no Burkina Faso:

A resposta de emergência das Aldeias de Crianças SOS no Burkina Faso apoiará até 1.200 crianças na comunidade do norte de Barsalogho, localizada numa área afetada por conflitos, deslocamento e insegurança. O Programa centra-se em:

 

  • Construção de espaços seguros para as crianças (Espaços Amigos das Crianças);
  • Apoio no bem estar social e emocional;
  • Importância da comunidade e consciencialização sobre temas como proteção e direitos das crianças;
  • Proporcionar espaços temporários de aprendizagem permitindo que 270 estudantes continuem a sua educação;
  • Formação aos professores das escolas sobre proteção infantil;
  • Oferecer serviços de cantina escolar como parte da prevenção da desnutrição e garantir que as crianças recebem uma a duas refeições por dia.

burkina faso ajuda emergencia