ENTRELAÇOS – maio 11 2018

A dor que não se vê...

Estas crianças precisam de todos nós.

Todos nós já sentimos dor, mas habitualmente sabemos situá-la. Dói-nos a cabeça, a barriga, o pé… Mesmo a dor psíquica, sabemos enquadrá-la num acontecimento - a morte de alguém querido, um desgosto de amor, um objetivo de vida gorado… Esta atribuição da dor a um local, ou acontecimento, ajuda-nos a compreendê-la e a “arrumá-la” no sítio certo. Ou seja, meio caminho para a aceitar… e tratar.

Quando lidamos com crianças e jovens, como alguns dos que chegam atualmente às Aldeias SOS, deparamo-nos com dores de paradeiro desconhecido, que as crianças não sabem reconhecer nem identificar, algures perdidas num trajeto de maus tratos e negligência…

A possibilidade de uma vida organizada em contexto familiar, com recurso a figuras de referência orientadoras e vinculativas, bem como os processos terapêuticos associados, ajudam a dar nome a essa dor, a explicá-la por palavras, ou através de outras formas de expressão, desviando-as do caminho que mais facilmente tomam, quando levam ao agir descontrolado, sempre fora de contexto, que aparece sob a forma de um comportamento que magoa de diversas formas quem está por perto, parecendo não magoar aquele que a inflige.

A criança que agride desta forma, percorreu um caminho de sofrimento que lhe causou danos profundos.

Assim, não podemos dizer que são “más crianças”, mas que sofrem, que estão doentes, por vezes feridas no corpo e na alma, na essência do seu ser.
São traços que integram perfis desafiadores, que têm de provocador tanto quanto de carente. O diagnóstico importa, porque orienta a ação e ajuda a compreender a criança por detrás do problema. Porque a criança não é a doença.

Os problemas de saúde mental, com maior ou menor gravidade, são sempre perturbadores e expõem as fragilidades das pessoas e das organizações, bem como das respostas sociais existentes no nosso país. É a sociedade a mudar, também, a transformar-se, a evidenciar que os problemas de hoje são diferentes e exigem novos olhares e novas soluções.

Não existem “ destinos traçados”, exceto aquele que nos impele a romper qualquer determinismo ôco e sem sentido.

A vida é para ser desenhada, a cada dia, e os lápis têm uma enorme variedade de cores. Nem sempre claras e brilhantes, mas também nem sempre baças e escuras. Estas crianças necessitam de cuidados dirigidos às suas dificuldades e à dor que não se vê.

Necessitam de segurança e estabilidade no envolvimento que se cria. Necessitam de rotinas familiares, da previsibilidade, que as ajuda a sentir-se seguras. Necessitam de continuar em contacto com as figuras afetivas e familiares, com aqueles que amam e as fazem sentir pertença “de alguém”. Necessitam de amor.

Estas crianças precisam de todos nós, porque podemos ajudar a refazer percursos e a educar para a vida. Porque o futuro começa a cada dia e esta é a nossa missão

Procuramos Mães SOS para o nosso programa de acolhimento (Aldeias SOS).
Se quer abraçar esta missão, candidate-se e mude o seu destino e o das nossas crianças e jovens!

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