A importância do Natal para as crianças e jovens das Aldeias de Crianças SOS

Todos nós precisamos de rituais. Um dos aspectos que ajuda a conhecer as famílias e os grupos comunitários diz respeito aos seus rituais, isto é, à forma como vivenciam as atividades partilhadas, nas suas dimensões consciente, inconsciente e simbólica, sejam elas de carácter quotidiano ou datas festivas. Os rituais dão-nos uma espécie de enquadramento (e neste sentido estrutura) ajudando a manter a sensação de previsibilidade, continuidade, segurança... conferem sentido de pertença a um determinado contexto e têm uma forte componente afetiva: ajudam a manter a estabilidade emocional, a antecipar acontecimentos, e, em alguns casos, a construir sonhos. Os rituais dão ainda a oportunidade de se marcar e celebrar alguns valores importantes, como as relações, a família, o amor. Dão uma espécie de ritmo simbólico e colorido à vida.

É o que acontece com a altura do Natal. Há nela uma espécie de renascimento.

Passadas as férias de Verão e o momento de adaptação a um novo ano letivo, por muitos imprevistos que surjam – e com a pandemia, bem temos todos sido testados a essa imprevisibilidade e àquilo que alguns já designam pela «nova normalidade» – as crianças sabem que o momento mágico do Natal se aproxima a passos apressados. Pela necessidade de normalizar o mais possível a vida de todas as crianças, nesta fase em que a COVID-19 nos deixa incertos e inseguros, a altura do Natal acresce de importância para as crianças e de momento terapêutico e reparador para todos. Os rituais conferem estabilidade em momentos de mudança e de ansiedade e têm um papel muito importante no desenvolvimento psicossocial. Dar às crianças a segurança de que o Natal existe, tal como elas sonham, é dos movimentos mais reparadores que nós, adultos, lhes podemos proporcionar.

 

 

Em muitos calendários, começam a ser riscados os dias: «já só faltam… dias para o Natal». Começa a ser altura de escrever a carta ao Pai Natal, com votos de saúde e amizade para os mais queridos, de fazer listas de prendas desejadas, e de idealizar esse dia. A planificação é muito importante: pensar a composição da mesa, elaborar o menu e as iguarias, preparar uma ou outra surpresa, e relembrar o ritual de, todos juntos, desvendarem o que está por detrás do papel de embrulho e do laço cintilante. E, acima de tudo, sentir os corações cheios por mais um Natal.

A época de celebração natalícia é particularmente sensível nas Casas de Acolhimento Residencial. Todas as crianças e jovens que as Aldeias de Crianças SOS acolhem, viveram, algures na sua vida, momentos difíceis com as suas famílias e foram separadas delas com sofrimento ainda que para sua própria proteção. São histórias importantes de cada um, relembradas de modo mais ou menos consciente a cada Natal, ritual por excelência de celebração da família. É por isso tão importante mantê-lo presente e vivo nas Aldeias de Crianças SOS. Porque as histórias pessoais não são para esquecer, porque a família de cada criança e jovem que acolhemos é também importante para nós, e porque queremos que dentro de cada casa de cada Aldeia SOS se possa viver sempre um ambiente familiar, onde o ritual convida o sonho a entrar e este dá espaço ao renascimento.