A situação pandémica tem afetado mais duramente as pessoas que vivem nas favelas. Não só devido às condições de vida, mas também porque a maioria das famílias não tem condições sanitárias adequadas. Por vezes, nem sequer têm acesso a água ou energia. A questão é como lidar com um vírus que só pode ser enfrentado com medidas de higiene adequadas? E quando alguém está doente na família, como manter essa pessoa isolada em casas tão pequenas, por vezes com apenas um quarto para todos? Os serviços de saúde estão sempre longe e têm de se expor para chegar a cuidados de saúde adequados.
O vírus tem atingido a população mais pobre do Brasil de forma mais intensa. Em São Paulo, as pessoas que nas áreas mais pobres e contraem o vírus têm até 10 vezes mais probabilidade de morrer do que as pessoas em áreas ricas, de acordo com dados divulgados pelo departamento de saúde da cidade. No Rio de Janeiro, as favelas concentram cerca de 22% da população do município, mas alguns estudos mostram que correspondem atualmente a 34,6% do número de casos confirmados e a 9,8% das mortes por COVID-19.
Apesar de tudo isso, em algumas favelas, devido à falta de serviços públicos, as pessoas que lá vivem organizam a sua própria luta contra o coronavírus, ajudando-se mutuamente e encontrando respostas para os desafios comuns. Os líderes comunitários em alguns dos bairros mais duramente atingidos do país estão a contratar as suas próprias ambulâncias, a criar fundos de desemprego e até a construir bases de dados independentes para localizar casos e mortes.