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MÉXICO

Apoiar as famílias de uma comunidade de migrantes

As Aldeias de Crianças SOS ajudam a melhorar a vida das crianças perto da fronteira com a Guatemala. 

Margarita relembra uma noite nos anos 80,  quando tinha dez anos de idade, quando ela e a sua família fugiram da guerra civil na Guatemala: 

“Muitas pessoas que conhecíamos morreram na guerra. Eu, os meus pais e irmãos, caminhámos durante a noite para fugir, por vezes com lama até aos joelhos”.

Margarita não tem a certeza da sua idade. Talvez quase 40, calcula ela. Sente-se presa entre dois países, sem casa, luta para criar os seus filhos. Mas ainda é melhor do que as imagens que recorda daquela noite em que tiveram de fugir, diz ela.

“Os soldados estavam muito próximos da nossa casa, faziam rondas e vigiavam todos os caminhos. Tivémos de subir e descer as montanhas. Finalmente chegamos ao México e ficámos”, diz ela.

Margarita e a sua irmã Angelina não falavam espanhol. Elas cresceram a falar Chuj, a língua que se fala na região florestal norte da Guatemala. Apesar das irmãs terem aprendido a língua espanhola na escola, Chuj é a língua materna que falavam com a sua família, durante os 20 anos que viveram no México.

 

Uma comunidade improvisada

Margarita, o seu marido e sete filhos estão a viver em El Refugio ("O Abrigo"), uma comunidade no estado mexicano de Chiapas, a poucos quilometros da fronteira com a Guatemala. Esta zona, rodeada por uma floresta tropical, montanhas e belas paisagens, é uma das atrações turísticas do México.

 

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"El Refugio" é uma comunidade onde os recursos são escassos. Margarita e a sua irmã Angelina estão a viver neste local com as suas famílias.

 

Também o trabalho escasseia, o que obriga os homens a procurar emprego em Comitán, na Cidade do México, ou em resorts em Cancún ou Playa del Carmen.

Numa estrutura social muito patriarcal e com baixos níveis de educação, a vida das mulheres nesta comunidade não é fácil. Elas ficam sozinhas durante longos períodos de tempo, onde procuram alimentar e educar os filhos. Mas apesar de todos os obstáculos, nunca desistem de encontrar um futuro melhor para as suas famílias.

 

Adaptar o apoio às necessidades das famílias
Nos últimos dois anos, as Aldeias de Crianças SOS estão a trabalhar com a comunidade para melhorar a vida das crianças.

“No ínicio, foi difícil ganhar a confiança das pessoas. A maior parte da comunidade faz parte da mesma família e um estranho tem que conquistar a sua confiança e um lugar nas suas vidas. No entanto, de uma forma lenta mas segura, começaram a colaborar conosco ”,  conta-nos Graciela Aguilar, técnica social das Aldeias de Crianças SOS do México.

O objetivo do programa de fortalecimento da família SOS é criar laços mais fortes entre pais e filhos, melhorar as competências dos pais e ajudar os adultos para que consigam encontrar melhores empregos. A equipa SOS também ajuda as famílias a terem acesso a serviços para garantir os seus direitos.

Margarita, por exemplo, já conseguiu obter certidões de nascimento de alguns dos seus sete filhos. Agora as crianças têm documentos de identidade que lhes dão acesso a serviços governamentais.

 

Angelina, a irmã de Marguerita, ajuda as crianças a aprender a ler. É importante para ela que as crianças aprendam a falar espanhol fluentemente. 

Nos últimos dois anos, a equipa SOS organizou "workshops" focados nas necessidades das famílias. As 35 crianças da comunidade participaram com as suas mães nas formações sobre direitos humanos. As mães pediram então, aulas sobre como evitar a violência doméstica, controlar a ansiedade e outros tópicos sobre os quais podem trabalhar para melhorar a qualidade de vida. 

 

“Procuramos soluções juntas”
As famílias podem entrar em contato com a equipa SOS sempre que tiverem dificuldades.

“As pessoas desabafam sobre os seus problemas e procuramos soluções juntos”, diz Graciela.

Com o apoio das Aldeias de Crianças SOS, Margarita e a sua irmã Angelina, defenderam a água potável na comunidade - e tiveram sucesso alguns meses atrás.

Mulheres como Margarita começaram a partilhar e discutir o que aprenderam nas formações dos "workshops" com os seus maridos. Têm esperança que os seus filhos tenham melhores ferramentas do que quando saíram de Guatemala a meio da noite.

 

Fotos de José Gallo

Imagem de cima: Margarita e o filho.

 

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