Inas, a história de uma menina num país em guerra 

"Sair da minha casa foi dos momentos mais assustadores da minha vida.”

 

Sentimentos contraditórios! Foi assim que a Inas se sentiu quando viu o novo bebé dos seus pais adotivos. Ao olhar para aquele bebe tão pequenino e tão fofo, ela sentia-se muito contente, por um lado, mas muito preocupada, por outro. Apesar de ter apenas dez anos de idade, ela sabia que a sua família não poderia sustentar duas crianças, pois não tinham os recursos suficientes para viver e encontravam-se deslocados da sua área de residência por causa da crise no seu país. Além disso, ela sentiu o quanto os seus pais adotivos amavam o o seu novo recém-nascido, que só chegou 15 anos depois de casamento. 

O medo da Ina tornou-se realidade. Três meses depois do nascimento do bebé, a sua mãe adotiva levou-a para casa de um parente. Disseram-lhe que seria uma estadia temporária. Contudo, ela sabia que não o era. O que a magoou mais foi pensar nos 7 anos que viveu com a sua família adotiva. Tinha apenas três anos quando a encontraram no bairro de Altadamon no sul de Damasco. "Nunca pensei passar por esta situação. Sair da minha casa foi dos momentos mais assustadores da minha vida”, disse a Inas.  

Depois de ter sido abandonada pela sua família adotiva, Inas passou três dias na rua e teve de dormir num parque durante as noites gélidas de Janeiro de 2017. Até que um dia, alguém reparou no choro de Inas, ouviu a sua história e levou-a à polícia. Foi nesse momento que o destino de Inas se cruzou com as Aldeias de Crianças SOS.

No Centro de Cuidados Temporários SOS, as Aldeias de Crianças SOS oferecem às crianças desacompanhadas e abandonadas serviços de cuidados alternativos a curto prazo, bem como apoio psicológico, educativo e médico. Ao mesmo tempo, os assistentes sociais procuram a família biológica de cada criança. Infelizmente, isso não é possível para a maior parte das crianças que vivem em Centros SOS e que perderam ou se separaram das suas famílias durante a guerra na Síria.

“Quando Inas chegou ao centro, havia uma necessidade urgente de lhe dar algum suporte psicológico. Ela parecia estar bem, mas estava a ter pesadelos todas as noites. Como a sua família adotiva a abandonou, Inas começou a perguntar sobre os seus pais biológicos, mas não conseguimos encontrá-los. No entanto, estamos a tentar encontrar parentes mais afastados.” Disse Nagham, cuidadora de Inas no Centro SOS.

Antes de chegar às Aldeias de Crianças SOS, Inas nunca tinha ido à escola. Mas tinha um forte desejo de aprender a ler e a escrever como outras crianças da sua idade. Em apenas dois anos, com o seu trabalho árduo e persistência, Inas conseguiu acabar dois cursos intensivos que são específicos para crianças que foram privadas da educação durante a crise da Síria. No próximo ano ela será capaz de acompanhar as crianças da sua idade na escola e isso é algo que a fez  sentir orgulhosa de si mesma.  

Inas tem o sonho de ser jogadora de futebol. Para Inas, não há jogos e atividades específicos para rapazes. Simplesmente faz o que lhe traz felicidade e constrói novas amizades. Como ainda há esperança para encontrar alguém da sua família, Inas vai viver para uma Casa que as Aldeias de Crianças SOS vão abrir em 2019 na área de Sahnaya, em Damasco. Lá, receberá cuidados e apoio em ambiente familiar que ajuda a criança a sentir-se mais estável, em segurança e confortável. Na sua nova casa, Inas vai viver com outras crianças e com um cuidador. Juntos, em família, vão compartilhar momentos felizes a superação das suas experiencias de vida tão difíceis torna-se mais fácil. 

 

 

*O nome da criança foi alterado para proteger a sua privacidade.